segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Islantilla (A Epopeia)

A Epopeia
25 Jul. 08

Eis que este blog volta ao activo para mais um relato das aventuras dos Inúteis mais queridos de toda a história da Inutilidade, numa narração arrebatadora, apaixonada e emocionante, de todas as acções heróicas e grandiosas, das peripécias, das gaffes e fait divers que preencheram os 10 dias vividos em Islantilla. A sul de Espanha, ou España, caso o emprego da língua assim o requeira, esta localidade onde El Jámon é rei e o xunning a moda, pode ser considerada, citando as palavras da Irmã Fi, A Cascais cá do sítio, em que Cá do sítio não é nem mais, nem menos, do que La Antilla, uma antiga vila de pescadores rudes de maneiras, pero generosos de coração.

Como a viagem turística, falada em mau espanhol, não pode ser começada pelo destino, retornemos ao ponto de partida desta jornada, em tons de um clássico homérico, dividido em cantos, partes ou capítulos, divisórias diferentes em sílabas, mas de missão semelhante, usadas caso o era, século ou milénio em que se esteja.

Embora parecesse nublado
Não era uma manhã de nevoeiro,
E sem esperança n'O Desejado,
Partimos com algum formigueiro.

Como nos tempos que correm não dá jeito perder tempo, deixemos então esta antiga maneira de relatar, daremos então um salto no tempo e na maneira de narrar. Sem mais rimas a usar, naquela carrinha Honda, barca de rio, seria pejorativo dar-lhe esse nome, pois a ocasião não é para menos, então será apelidada de galeão, espanhol por fama e proveito, galeão português pela bravura de quem transportava. Não com Américas por descobrir, mas com mira à Andaluzia, seguimos, céleres, ofegantes por riqueza, de espírito, que a outra estará por ganhar.

Apesar da grandiloquência do discurso, não se devem esquecer as apresentações. Heróis não os existem, são forjados pela necessidade, e assim se chamam de anti-heróis. Os desta história, que noutras já foram invocados, são cavaleiros em título, vindos das trevas da Parvónia, toda a gente o sabe. Aqui ganharão outra luminosidade, em grande estilo serão invocados por Ó Pessoa, não confundir com o poeta. São chamados, Ó marinheiros d'água salgada, Pi, André e Nuno. E vós tágides, Fi e Inês, tendes em mim um novo engenho ardente. Tomarei o lugar de narrador e a palavra para descrever aquilo que sucedeu. Feijão-Mestre, me apresento.

Galeão atracado, carga descarregada, atabalhoada como qualquer chegada, era só olhar. Já se dizia Quem tem olho em terra de cegos é rei, melhor remédio não pode haver do que Ver para crer. Lá estou eu a rimar, mas de sufocados pelo calor seguimos com aquele ar, a caminho da velha vila, atenção ao uso do adjectivo, pejorativo aqui calhou bem, coitados dos velhos. A pretender matar a fome marchou um hamburguer do Lino's, como se ela se contentasse com tão pouco, seguimos às compras. Do Carrefour voltámos, com as merendas, lanches e banquetes, a fazer, claro está, que a ocasião não era para festas, ainda, pois acabámos de chegar.

Calem o bardo, trompas e trompetes, que a ode cesse por instantes. É tempo de mergulhar e dar um ar da nossa graça, pois já de si não é tanta.




Depois vieram as limpezas, necessárias por necessidade, perdoem-me o pleonasmo, como porcos não poderíamos viver, condição mais baixa da natureza humana, pingo de dignidade ainda nos restava, pudera, era o início. No entanto, soltou-se a frase A gente somos animais todinhos, exclamação liberta entre o abrir e fechar de boca e tentativas de fuga do bolo alimentar. A primeira frase de muitas a vir, um ponto para o Perdigón.

Foi com algum arrebatamento que elevado à posição de Chef, Irmão André Buffon-Bufunfas, dominou a cozinha e presenteou os seus companheiros de aventuras e irmãos de armas com um manjar, o primeiro, sem cerimónias, pois a necessidade assim o impunha. Bifinhos grelhados acompanhados por arroz, batatas e salada, esta última obtida por uma antiga receita, passada de geração em geração e de boca em boca, assim o saber se propaga.

Após tudo arrumado, os bravos descobridores escapuliram-se e assentou-se-lhes o merecido descanso.

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